"NE PAS RIRE, NE PAS PLEURER, MAIS COMPRENDRE" SPINOZA

..."Here comes the sun smiling... How long have you been blue? There'd ever be a time for us to recapture all the time we lose... Cause it's plain to see, a storm is not the weather and i'm telling you girl : You'll look at them and smile "...

mardi 4 mai 2010

"UMA COISA VOCÊ TEM QUE CONCORDAR, MINHA VIDA DE MORTO É MAIS ANIMADA DO QUE A DE MUITO VIVO POR AI!"

"Quanto à frase derradeira há versões variadas."
(Afinal, quem poderia ouvir direito no meio de tamanho temporal?)
"Segundo um trovador do Mercado, passou-se assim:
'No meio da confusão ouviu-se Quincas dizer:
' - Me enterro como entender
na hora que resolver.
Podem guardar seu caixão
Pra melhor ocasião.
Não vou deixar me prender

Em cova rasa no chão."

(E foi impossível saber...)

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Viajar é sempre bom!!
Não me canso de repetir!!
E olha que, mais uma vez, viagens me motivam a atualizar o blog!!
Sair da rotina, mudar de ares, novo fôlego!!
Mesmo que por poucos dias e a trabalho!!
No domingo embarquei para São Paulo.
Sempre que a Globo Filmes faz algum lançamento, as afiliadas são convidadas a assistir os filmes em primeira mão e participam das coletivas e entrevistas com os atores.

Fui conferir "QUINCAS BERRO D'ÁGUA", filme de Sérgio Machado e baseado na genial obra de Jorge Amado ( com estréia prevista para 21 de maio) .

Li o livro há muuuuitos anos, alguns detalhes se perderam no tempo, mas claro que a história me marcou e assim que soube que o filme seria estrelado por Paulo José, fiquei ainda mais interessada!
Sou super fã do ator que além de novelas e mais de 40 filmes ( entre eles Macunaíma) me encantou com a narração do belíssimo documentário ILHA DAS FLORES!
Mestre da interpretação, ele trava uma luta cansativa contra o mal de Parkinson...Minha avó tem a mesma doença e só quem convive de perto sabe como ela é cruel...
Mas Paulo José tem vencido as batalhas, fez uma cirurgia cerebral recentemente e apesar de todos os inconvenientes causados pelo mal, ele dribla as dificuldades com um incrível jogo de cintura.
No filme, ele tem a complexa tarefa de interpretar um morto "muito vivo", que é "sequestrado" pelo grupo de amigos da boêmia e do baixo meretrício de Salvador, na Bahia.

O restante da história muitos já conhecem!

A trama se desenrola num ambiente underground, sombrio até, escancarando o submundo da cidade contraposto à hipocrisia burguesa do final dos anos 50!
Quincas, que já havia "morrido" uma vez para a sociedade depois de abandonar a vidinha chata com a família rica e "certinha" para se entregar aos prazeres mundanos e à cachaça, é encontrado morto na cama do barraco onde vivia, de tanto beber!!...e ai começa a sequência de episódios "surrealistas" confrontando a família burguesa com os verdadeiros amigos, malandros, maltrapilhos, alcóolatras mas totalmente apaixonados e fiéis ao "paizão" QUINCAS...
A história vai sendo narrada pelo próprio personagem "onisciente", como se estivesse apenas em um longo estágio de catalepsia e não morto! Mas percebendo tudo ao seu redor!!

No meio do filme, o desconforto...pensei: que diabos está acontecendo comigo? Estou no meio de uma comédia e mal consigo segurar as lágrimas durante inúmeras cenas! Qual meu problema???
Talvez excesso de sensibilidade, mas o certo é que os atores me comoveram com a interpretação ao longo dos trechos em que promovem um verdadeiro embate para aceitar a morte do amigo querido...e é esse um dos focos da obra: a não aceitação do FIM, da MORTE, da PERDA e o VIVER a vida intensamente!!!

Destaque para Mariana Ximenes em uma ótima atuação, interpretando a filha de QUINCAS, que descobre na morte do pai a chance de uma nova vida. E o quarteto Luis Miranda, Frank Menezes, Flávio Bauraqui e Irandhir Santos como os "órfãos" do malandro QUINCAS, o "pelotão que nunca abandona seu comandante"!!!Sem falar na "gia", uma "perereca" de estimação que rouba a cena e nos bastidores ganhou apelidos como GIA Nequine; Preta GIA, Elis ReGIA e ReGIA Duarte, rs!!!!
As cenas da tempestade, um dos traços modernos da obra no que se refere aos efeitos visuais, também chamam a atenção!
Batendo papo com diretores e atores durante a coletiva, descobrimos que Paulo José, apesar de interpretar o morto que passa praticamente todo o filme sendo arrastado de um lado para o outro pelos colegas, também "dirigia" um pouco os atores de dentro do caixão.
Segundo ele, "a arte do ator está no olhar" e neste caso, o morto estava sempre de olhos fechados, mas nem assim faltaram expressões que davam o tom perfeito do momento!!
"Quando eu assisti ao filme, tive a impressão de que, na verdade, o meu personagem está de olhos abertos, mas o que ele enxerga é a parte de dentro de si mesmo”, disse Paulo aos jornalistas. Ele tem razão!!

Dois bonecos foram criados para servir de "dublê" do ator, mas pouco foram usados! Paulo fazia questão de participar até das cenas mais ousadas, quando se pendurava numa estátua ou descia "morto" as ladeiras de Salvador para "morrer uma morte porreta" !!

A trilha sonora é outro grande acerto! O trabalho, que durou dez meses, foi coordenado por Beto Villares e lembra muito as chamadas "operetas", remetendo ao estilo marcante do cineasta sérvio Emir Kusturica ( que, particularmente, EU ADORO!!). Sutilmente, cada personagem tem uma música específica de fundo, com bandas de coreto, participação do Quarteto da Cidade de São Paulo, cordas e orquestras!

Já que este é um espaço onde posso escrever deixando a IMPARCIALIDADE passar longe, fica "mon avis": vale a pena conferir o filme!!!

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"UMA COISA VOCÊ TEM QUE CONCORDAR, MINHA VIDA DE MORTO É MAIS ANIMADA DO QUE A DE MUITO VIVO POR AI!"

( QUINCAS BERRO D'ÁGUA)